Colaboração de Dados para o bem comum

0

Nosso futuro digital deve ser inclusivo, confiável e sustentável

Este documento foi publicado pelo Fórum Econômico Mundial em 2019 e representa um marco importante na definição de uso dos dados no novo cenário mundial.

Ele procura aprofundar a compreensão de como é necessário equilibrar a necessidade de maximizar o poder dos dados para entregar mudanças transformadoras, mas ao mesmo tempo, estabelecendo proteções contra riscos emergentes que podem causar danos irreversíveis a populações e pessoas vulneráveis.

Visto sob a ótica dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), este assunto remete ao uso da informação como fator de desenvolvimento da sociedade humana, eliminação da pobreza, redução das desigualdades.

O pano de fundo é a ação dos setores público e privado de maneira solidária para buscar o equilíbrio entre o uso dos dados entre interesses concorrentes e sua utilização de forma ética e eficaz para promover a inovação e o desenvolvimento.

Sem dúvida alguma, os dados são a principal matéria prima da era digital que vivenciamos. Os investimentos em Machine Learning, Inteligência Artificial e Engenharia de Dados demonstram o potencial do uso inteligente dos dados para gerar vantagem competitiva, inovação e uma capacidade crescente de entender as necessidades e demandas de toda uma população, segmentos sociais e mercados.

Por outro lado, sem uma atitude ética e responsável no uso destes dados, podem ser construídas imensas catástrofes, colocando em risco minorias, setores sociais, segmentos de mercado, países etc. O fenômeno das notícias falsas no cenário político de diversos países é uma pequena amostra do efeito devastador do uso dos dados sem o pano de fundo de uma consciência social.

O relatório patrocinado pelo Fórum Econômico Mundial promoveu um trabalho de exploração dos fatores que contribuem para catalisar o progresso no domínio da colaboração de dados público-privada.

O resultado é uma proposta de estrutura pragmática para equilibrar duas preocupações concorrentes: inovar e proteger a sociedade contra riscos emergentes.

Os líderes mundiais apontam neste relatório para cinco fatores críticos para obter a parceria público/privada no uso dos dados:

1) garantir que todas as partes interessadas estão comprometidas para obter resultados compartilhados;
2) operacionalizar os princípios de governança de dados responsável;
3) fornecer insights que são alcançáveis, objetivos, justos e explicáveis;
4) apoiar líderes tomadores de decisão e usuários da linha de frente com habilidades e recursos para usar dados;
5) estabelecer uma economia sustentável para garantir o impacto a longo prazo.
A partir da análise de cerca de duas centenas de casos, o relatório aponta para 3 grupos de dados onde a parceria publico e privada é importante:

Ação humanitária e resposta a crises

Esta dimensão diz respeito a atividades relacionadas como a previsão, preparação, prevenção, resposta e recuperação de desastres e crises naturais e causados ​​pelo homem.
Por exemplo, a análise combinada de tendências de mídia social, dados de telecomunicações e registros proprietários de grupos humanitários podem facilitar a geração de insights precisos, robustos e acionáveis ​​para mobilizar esforços eficazes de alívio em desastres naturais ou crises.
A pandemia mundial da Covid-19 mostrou como este assunto é crucial: apesar de todas as dificuldades e divergências, a ação coordenada da ONU, Governos, entidades científicas e laboratórios farmacêuticos permitiram um conhecimento rápido e profundo do vírus e sua ação e o desenvolvimento de vacinas em tempo recorde.

Desenvolvimento Global

Essas colaborações envolvem a pesquisa de problemas e aspectos sociais, econômicos e políticos de longo prazo. Elas fornecem percepções sobre o comportamento dos cidadãos, que permitem às partes interessadas estabelecer programas e tomar decisões melhores. Além disso, a análise cruzada de conjuntos de dados aparentemente díspares, de vários setores e indústrias pode ajudar a descobrir percepções ocultas e padrões críticos para resolver desafios altamente complexos.

Estatísticas oficiais

Este segmento de colaboração cria indicadores e medidas que podem servir como agente para novos métodos de coleta de dados para apoiar as Agências de Estatísticas. de estatístia. Isso, por sua vez, pode ajudar governos e tomadores de decisão a monitorar e avaliar o impacto de suas políticas, estabelecendo indicadores mais precisos e adequados e apoiar o trabalho de agências de estatística locais, nacionais e internacionais para alcançar os ODS.

Riscos e ameaças

O relatório aponta também alguns dos principais desafios ao estabelecimento de uma cadeia de colaboração público/privada para o tratamento de dados.

  1. segurança,
  2. privacidade,
  3. risco comercial,
  4. fluxos de dados internacionais,
  5. preocupações com a reputação

Estes elementos, presentes de forma combinada tornam o processo de evolução lento e muito trabalhoso.
O pano de fundo dessas preocupações é uma profunda e crescente desconfiança entre indivíduos, instituições e governos. O relatório previa que o custo dos danos causados ​​por hackers, malware e violações de dados deveriam dobrar de US $ 3 trilhões para US $ 6 trilhões até 2021.
Um estudo internacional denominado Edelman Trust Barometer, em sua edição de 2019, mostra a percepção da população em diversos países, em relação aos governos, meios de comunicação, empresas, entidades não governamentais, partidos etc. e como esta confiança varia ao longo dos anos.

A grande desconfiança do público em relação ao setor privado sobre o uso indevido de dados pessoais é o que impulsiona a implantação de leis de privacidade em todo o mundo. Seguindo um movimento que já se consolidou em mais de duas dezenas de países, o Brasil aprovou este ano a Lei Geral de Proteção de Dados, o que tem exposto as mazelas e fragilidades dos nossos sistemas de informação.

O fortalecimento da confiança da população exigirá uma série de ações relacionadas à economia, operações e governança na colaborações de dados entre entidades público-privadas. Sem esta cooperação, eles terão dificuldade em equilibrar as tensõesentre a necessidade de proteger os dados e as oportunidadespara inovar na sua utilização. Estabelecer e fortalecer a confiança é uma tarefa estratégica para todas as lideranças.

O relatório avança afirmando que “Apesar dos desafios futuros, o custo da inação é inaceitável. Embora os riscos e razões para não usar dados do setor privado para o bem comum sejam muitos, o custo de não usar – a incapacidade de inovar no uso de novas fontes de dados – apresenta preocupações adicionais. Sob este ponto de vista,há uma reformulação do diálogo global para abordar ambos os riscos do uso indevido de dados, bem como seu uso indevido”. 

“Embora nossos dados tenham sido coletados e usados ​​por mais de uma década de maneiras que não podemos determinar, também não foi usado para melhorar as estatísticas oficiais, prestação de serviços públicos ou alerta prévio para resposta a desastres ”, observa Robert Kirkpatrick, Diretor do UN Global Pulse. “Estamos pagando diariamente – e boa parte de forma invisível – custo da perda de oportunidades uso de dados para o bem público”.

Uma aposta na confiança


As seis dimensões de um sistema confiável

Como as organizações podem fortalecer a confiança e implementar a colaboração de dados público-privada de maneira eficaz, dada a gama de riscos e desafios entrelaçados?  O Fórum Econômico Mundial chegou a uma formulação de seis dimensões de um sistema confiável:

  • A segurança envolve alocar pessoas, processos e ferramentas necessários para garantir que a confidencialidade, integridade e a disponibilidade de dados será mantida e protegida durante todo o ciclo de vida contra ataques maliciosos, acidentes e “atos de Deus” que ocorrem naturalmente.
  • A responsabilidade envolve processos para garantir que as partes interessadas da rede são responsáveis ​​por defender os padrões e acordos aceitos para que relacionamentos permanecem confiáveis ​​e previsíveis.
  • A transparência envolve dar às partes interessadas mecanismos eficazes para entender relacionamentos, intenções e resultados. Para conseguir isso, os indivíduos precisam de acesso a informações compreensíveis sobre como são os relacionamentos estruturado e como os dados estão sendo usados. Além disso, a transparência exige que as organizações tenham a capacidade de supervisão para garantir que todos os resultados de uma colaboração de dados sejam precisos e que vieses (intencionais ou não) não sejam sistêmicos.
  • A auditoria envolve a criação de ciclos de feedback para verificação externa, verificação e monitoramento dos fluxos de dados em uma variedade de partes interessadas e jurisdições. Esse elemento cria confiança entre as partes, facilitando as transações e permitindo uma resolução eficiente de disputas.
  • A equidade envolve garantir que o valor seja distribuído de maneira justa e que os resultados sejam imparciais. Reguladores e agências de proteção ao consumidor precisam estar focados em garantir a justiça e estão cada vez mais vigilantes sobre o potencial dos dados para prejudicar populações vulneráveis, enfraquecer indivíduos ou criar um campo de jogo injusto para os concorrentes.
  • A ética orienta as partes interessadas ao tomar decisões potencialmente ambíguas, incertas ou altamente dependentes do contexto. Atividades antiéticas (ou mesmo ilegais) podem prejudicar permanentemente a confiança entre os parceiros de colaboração. Para as colaborações de dados, um princípio ético fundamental deve envolver a proteção dos direitos, aspirações e intenções das populações vulneráveis.

O relatório afirma ainda que “Se os dados são a base da nossa sociedade digital, o acesso será vital para construir o mundo que desejamos. Nos dirigindo aos nossos desafios globais mais complexos, tomando as melhores decisões durante tempos de crise e monitorando o progresso nos ODS, todos requerem acesso ao mais granular, oportuno e completo conjuntos de dados disponíveis. 

Isso não será possível sem uma robusta colaboração de dados público-privada. Um mundo de colaboração de dados público-privados também exige um compromisso contínuo com o fortalecimento da confiança. 

É verdade que as tecnologias da Quarta Revolução Industrial são transformadoras, mas a verdadeira revolução está em sua capacidade para conectar diversos grupos de indivíduos e instituições de maneiras sem precedentes. A estrutura discutida neste relatório fornece aos líderes uma nova abordagem sobre como encorajar mudanças positivas, fortalecendo os relacionamentos de confiança e o desbloqueio de novas formas de inovação técnica.”

 

Fonte: https://sucessosi.com.br/colaboracao-de-dados-para-o-bem-comum/seguranca-da-informacao/serrano/